quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Rio


Ser como o rio que deflui

Silencioso dentro da noite.

Não temer as trevas da noite.

Se há estrelas no céu, refleti-las

E se os céus se pejam de nuvens,

Como o rio as nuvens são água,

Refleti-las também sem mágoa

Nas profundidades tranquilas.


Manuel Bandeira

domingo, 15 de agosto de 2010

Em homenagem aos nossos dias de chuva


Me olho nos olhos e nestes últimos dias parece que há muita água para verter por estas janelas.
Me dou conta disso agora, num olhar despretencioso lançado a mim mesma.
O mais engraçado é que, ao pensar nisso, uma chuva, indecisa entre molhar ou sugerir, cai, e eu observo pela janela fechada.
Te escuto cantando e lembro da noite em que a tempestade e meu dilúvio se fundiram. inundando cidades, causando destruição, pondo abaixo o que era sólido e o que já era ruínas mas resistia a tombar.
Que força é essa? Que naturezas dialogam com tamanha integração?
(Em 11 de agosto - uma manhã fria e cinza)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Entre o brado e o sussuro


Como são bonitas as manhãs de julho.
Um sol fraco e o colorido das sombrinhas alvoroçando a cidade. Algumas nuvens, uma brisa cálida.
As manhãs parecem tímidas, moças recatadas, que entram pedindo licença, languidamente se derramando sobre nós.
E essa placidez se desfaz apenas com a chuva, mulher tempestuosa, que entra altiva, anunciando-se em brados, batendo portas. Redemoinhos de vento, de água fazendo correnteza, lavando e levando tudo. É a força do masculino presente.
E só a mulher pode sobressair perante a moça.


p.s: Para você, numa manhã de Julho em que não estavas.

sábado, 17 de julho de 2010

Para desabafar


É bem verdade que escrevo esporadicamente (quase com esporas), mas perceba também o lapso (quase um co-lapso) entre o tempo do papel e o da postagem.
Sou afeita ao papel, ao lápis ou caneta, objetos tridimensionais, tangíveis, sempre (ou quase sempre) à mão. Registro meus escritos e os guardo para que amadureçam ou amarelem nas folhas. Só quando chegam a este estágio, os despejo de carrada na virtualidade do mundo.
Portanto...se eu não posto, é porque faltou o momento - ou porque nada foi produzido.
E que amargura por nem sempre anotar as idéias.
Dias deste tentava lembrar uma frase que você lançou despreocupadamente numa conversa com outrem, e eu pesquei pensando: bela frase, poderia iniciar uma peça com isto.
Faltou-me o registro.

Um pensamento não finalizado, ao qual intitulo "Na Dualidade Ninguém Ganha"


Por estes dias li O Vendedor de Passados, José Eduardo Agualusa, e descobri um novo queridinho. Estabeleci como meta ampliar a lista deles - os queridinhos, descobrir novas paixões literárias, me relacionar mais profundamente com os que me atraem.
Engraçado como há luz e cores no livro de Agualusa - não sei se nele porque só li este, por enquanto - e isso me remete a outra coisa: as cores da vida.
Parece clichê, e deve ser mesmo, mas para mim é uma descoberta recente. Na dualidade as cores se ressaltam junto a seu contraponto. É bem verdade que já me haviam explicado que o verde é o oposto complementar do vermelho e, ao que me parece, os arquitetos exploram esta noção básica, como nas toalhas vermelhas que realçam e são realçadas pelo verde da grama.
Na ausência de um o outro se apaga.
Contrariando o senso comum de que numa disputa a ausência de um é a vitória do outro, na vida, se um sai, as cores do outro também empalidecem.

(Em 24 de junho de 2010)

Só lembranças

Hoje, segunda-feira.
Fim de feira, num dia flutuante de Julho.
Há algum tempo estaria eu chorando, amargamente, a partida de um amor que pergunto: me amou?
Sabe-se lá se daqui a alguns dias chorarei a partida de um novo amor. O que sei é que aquele já se foi para a galeria do passado, virou uma memória na parede onde estão expostos fatos de minha vida.
A única visitante sou eu, assaltada por lembranças, sou traseunte em férias, passando em revista, esporadicamente, tempos que não voltarão.
Mudam-se os quadros ou meus olhos?
O que importa é que nesta segunda-feira a qual relato não há lágrimas. Só lembranças.

(Em 12 de Julho de 2010)

Enquanto viajavas


É o cheiro das rosas que trago nas mãos que sinto neste momento, ao olhar janelas e portas perfiladas em um casarão antigo, numa rua estreita de um bairro que ainda fede.
O vento açoita meus cabelos e me pergunto quais cheiros tu sentes neste mesmo instante.
As cores do mundo parecem ressaltadas enquanto caminho com as rosas nas mãos.
A vermelha é mais vermelha ao lado da branca, e esta, mais altiva ao lado da rubra.
Assim como nós.

p.s: Isto eu pensava enquanto caminhava pelas ruas a resolver algo que me havias pedido antes de partir. E pensava, ainda, ao final da tarde, o que estarias fazendo naquele mesmo instante, quais rostos estarias vendo, que aromas e sabores estarias sentindo. Isso é algo que nunca compreenderei, ainda que me contes detalhadamente cada coisa que te passou. O teu encantamento é algo que não poderei compreender com inteireza, porque não vi teus olhos enquanto brilhavam ao vivenciá-lo. Mas sei que tu és tu e eu, e eu sou mais eu à medida que sou um pouco de ti. Assim como as rosas vermelha e branca juntas, ressaltando a beleza de cada uma junto a outra.
Este é para ti.

Em algum dia do mês passado

Quanta dor é necessária para magoar alguém?
Quanto pesa a mala de quem vai embora sem o ter escolhido?
Quanto de coragem é necessário para fazer o que tem que ser feito nesse momento?
Não dá pra ver o céu, mas sei que há estrelas lá fora.
Não dá pra ver a rua, mas sei que chove, porque dentro de mim há esta certeza.
Eu não quero escrever, mas quero lembrar dos meus pensamentos.
E foi neste dia que o inverno chegou, o tempo esfriou.
E foi neste dia que eu estreei o lápis.

Ruídos do passado (numa rua antiga do Recife)


O tilintar das contas do colar da moça. O ruído da sola no calçamento de uma rua vazia que ressoa a presença solitária. O casario observando a passagem apressada.
Os fantasmas de outrora espreitando das janelas históricas de um Recife nem tão antigo, que nos revela nos que aqui estiveram antes da moça.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Escritos de um passado longuiquo


Quantas pernas apressadas passam enquanto o rio passeia.
Quantas pontes cada um traz dentro de si?
As luzes da cidade cintilando no rio. Veículos apressados. Rostos cansados. Ruídos vários.
E o teu rosto me acena com a calma que trazemos dentro.


Isso foi num período em que havia calmaria dentro!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Monólogo - parte 1


Sinto falta de conversar com você sobre tantas coisas, aí penso que devo conversar comigo mesma, cada vez que abro o e-mail e repenso se devo escrever.
Penso que devo deixar-te em paz, caminhar e não olhar pra trás ao descer o caminho, como diz o poema que tanto gostas. Devo sentir tua falta e te deixar viver, assim foi minha escolha, não?
Tenho que aprender a ser grande.
Sabe, ainda sinto um frio na barriga ao esbarrar com a dona pelos corredores do navio. Percebo que me falta a ousadia nos olhos, aquele ar de superioridade e desafio, o apreço pelo gosto de sangue na boca.
Me pergunto se algum dia conseguirei essa superioridade.

Fragmentos


O rio que corre tão rápido, para além desta janela, parece nos deixar imóveis. Parece que ele corre mais rápido nos dias tristes, querendo dizer algo.

Eu, que sempre fui bem-vinda, cuja presença era sempre esperada, hoje não entro mais nos mesmos lugares, e nestes já não há vestígios físicos de minha passagem.

E esta dor, de onde vem? Porque se achega assim, de repente. Que vontade de fugir de mim mesma, dos meus pensamentos.

Divagando pelas ruas da capital


Domingo a cidade está aberta (diz a faixa).
E o meu coração?

Uma quarta-feira mais deserta


Hoje o deserto de almas parecia mais deserto.
E minha alma não estava.
(em 16 de Junho, numa manhã cinza e silenciosa)